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Segundo a Subsecretaria de Políticas para Mulheres da Secretaria estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, o RJ foi o estado com mais denúncias em 2020; foram 15.419

Paolla Serra

11/07/2021 – 04:30

RIO — Aos 19 anos, o então namorado da técnica de enfermagem X. já reclamava de suas roupas e criticava o modo como ela cumprimentava outros homens. Eles se casaram, tiveram dois filhos e, ao longo de mais de uma década, além das demonstrações excessivas de ciúmes, o músico também passou a ameaçar e a agredir a mulher psicologicamente. Durante a pandemia, num dos episódios de violência, X. saiu de casa com as crianças e buscou atendimento nos Centros Integrados/Especializados de Atendimento à Mulher (Ciam/Ceam), em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

— Já não existia amor há muito tempo no nosso relacionamento, ele destruiu tudo com o comportamento rude e o terror que fazia. Mas eu, por medo, não ia embora nem o denunciava. Ele me manipulava de uma forma que cheguei a me sentir culpada pela situação que vivíamos. Mas, depois de um surto, entendi que estava sendo vítima de violência doméstica e decidi procurar ajuda para saber quais eram os meus direitos — conta ela.

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Formadas por equipes multidisciplinares, que incluem psicólogos, assistentes sociais e advogados, as oito unidades do Ciam/Ceam são a porta de entrada dos serviços às mulheres vítimas de violência no estado do Rio. Além de acompanhamento para registrar o crime na delegacia e conseguir medidas protetivas contra o marido, a técnica de enfermagem deu entrada no divórcio, refez documentos que haviam ficado com ele e ainda passa por sessões de terapia no local.

Subsecretária de Políticas para Mulheres da Secretaria estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, Glória Heloiza afirma que a procura por esses atendimentos cresceu 45% em 2020. Nesse período, o Rio foi o estado do Brasil com mais denúncias à Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, que inclui o Disque 100: foram 15.419.

— As mulheres sempre foram vitimas de violência mas sequer sabiam disso. Com o isolamento social recente, essa fragilidade foi desnudada e começamos a ter uma maior visibilidade de que meninas, mulheres e idosas estavam sendo agredidas dentro de suas próprias casas. Então é preciso que elas saibam que existe uma rede de proteção, com mecanismos fortalecidos, à disposição — afirma.

A pasta mantém ainda um acordo de cooperação mútua com o Sesc RJ, um dos braços operacionais da Fecomércio RJ. Um dos projetos, o “Dona de mim”, promove ações de conscientização sobre tipos de agressão e dá apoio às vítimas.

Casada há 29 anos, a assistente social Y., de 53, também conseguiu denunciar as agressões físicas que sofria do marido durante a pandemia. Ela buscou ajuda no 21º Ofício de Notas da Capital, no Méier, na Zona Norte do Rio, depois de passar por violência sexual, física e psicológica do marido.

— Os atos violentos começaram na noite da nossa lua de mel. Ele chegou a pedir desculpas e dizer que estava arrependido, mas nunca deixou de ser agressivo. Sofri calada por uma vida inteira — emociona-se.

Responsável pelo cartório e diretora da Associação dos Notários e Registradores (Anoreg-Mulher), a tabeliã Vanele Falcão explica que a unidade aderiu à campanha do sinal vermelho, em que basta mostrar um X na palma da mão para obter ajuda dos funcionários:

— Aumentando a capilaridade dessa rede de apoio (são cerca de 400 cartórios nos 92 municípios do Rio), essa mulher entende que não está sozinha e pode ser acolhida com humanização e ouvida sem julgamentos.

As reportagens sob o selo “Reage, Rio!” têm apoio institucional de Rio de Mãos Dadas, uma iniciativa da Fecomércio RJ.

Fonte: O Globo

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